sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Nobel - Luis Fernando Verissimo

No livro, As mentiras que os homens contam, de Luis Fernando Verissimo, reúne 41 histórias, algumas inéditas. O leitor certamente vai se lembrar de algumas situações parecidas que ocorreram em sua vida. Quem nunca se deparou com um estranho na rua com a constrangedora pergunta: "Lembra de mim?" E você, mesmo sem saber de quem se trata, responde: "Claro." E, aí, tenta ganhar tempo e mais algumas dicas para decifrar a identidade do inconveniente sujeito. Quem nunca inventou, para a mãe, uma dor ou mal-estar pra fugir de um dia de aula? Quem nunca usou o trânsito para justificar o atraso a um compromisso? Afinal, quem nunca contou uma mentira que atire a primeira pedra. Ou então se junte a essa deliciosa galeria de mentirosos inventados por Verissimo. Vale a pena conferir!!

Deixo aqui, um pedacinho do livro, quem sabe isso não incentiva. Trata-se do conto "Nobel".

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Nobel

- Viu quem ganhou o Nobel de Literatura?
- Quem?
- Este nem você conhece.
- Quem é?
- Um tal de Roger Paillac. Ninguém conhece.
- O Roger Paillac?
- Vai dizer que você conhece?
- Conheço. Mas jamais pensei que ele pudesse ganhar o...
- Espera um pouquinho. Você conhece o Roger Paillac?!
- Escuta aqui. Só porque você não conhece, não quer dizer que ele seja
desconhecido.
- Mas todo mundo com quem eu falei, até agora, conhece ele menos do que
eu.
- Ora, todo mundo. É preciso ter um mínimo de informação, certo, não é
um autor popular. Mesmo na França deve ter muita gente que não conhece.
- Mas você conhece o Marcel Paillac.
- Roger Paillac. Conheço. O que é que eu vou fazer? Conheço.
- É poeta, é?
- Parece que fez poesia também.
- O que você leu dele?
- Lembro de um conto. Uma espécie de conto. Uma coisa assim, meio
impressionista. Não me impressionou muito. Nunca entendi muito bem a
reputação dele com a nova crítica.
- Não foi ele que escreveu Les oiseaux colerique?
- Não, não. Não tem nada a ver.
- É mesmo. Aquele é o Fouchard de Brest. Quer dizer que o Jean-Louis
Paillac...
- Roger Paillac.
- Jean-Louis.
- Roger.
- Tem certeza?
- Absoluta.
- Pois não é Jean-Louis nem Jean-Paul, nem Roger, nem Marcel.
- Como, não é?
- Eu inventei o nome. O Roger Paillac não ganhou prêmio Nobel e nunca
vai ganhar porque não existe.
(Silêncio.)
- Rá. Te ganhei.
(Silêncio.)
- Escuta. Você... Eu... Era brincadeira... ESPERA! (Sons de briga. Alguém
sendo esgoelado.)
- Socorro! Au secour! Soc.
(Silêncio.)

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